Mística e Simbologia

Mística

A Mística dos Caminheiros e Compa­nheiros consiste na busca da vida plena em Cristo, o mesmo é dizer, a vida no Ho­mem Novo.

A descoberta dos dons de Deus, com a progressiva aceitação da Aliança que Ele oferece ao Homem, permite encontrar um novo projecto de vida: a construção da Igreja dá Corpo a esse projecto, e a vida vivida com critérios cristãos, assumida com valores cris­tãos e alimentada em Cristo, exprime a vida desse mesmo Corpo. É esse o resumo do itinerário espiritual propos­to pelo conjunto das quatro etapas se­quenciais das secções.

Viver em Cristo é a meta de todo o Cristão.
Pelo baptismo, fomos já configurados com Cristo e feitos membros da Igreja mas, enquanto peregrinamos neste mun­do terrestre, experimentamos a dialéctica de uma vida no mundo, sem ser do mun­do. Isso acarreta dificuldades e exige um esforço de fidelidade ao querer de Deus. A correspondência à vontade divina é um caminho para toda a vida e, o chegar da partida de Caminheiro/Marinheiro re­presenta apenas o assumir consciente e maduro do rumo a seguir. Não significa, por isso, a conclusão do caminho, nem a inércia da meta alcançada.

Resumimos assim a Mística da quarta Secção:
A vida no Homem Novo: o Caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser.
O Caminheiro/Companheiro é chamado a viver integralmente em Cristo, o “Homem Novo”, assumindo um lugar activo na cons­trução dos “novos céus e da nova terra”.

Com a ênfase colocada na vida cristã, nas diversas dimensões que compõem o ser humano, pretende-se estimular para a incarnação plena do Evangelho de Je­sus Cristo, sem hiatos ou áreas excluí­das. Tudo o que é próprio do ser humano tem também a ver com o Evangelho e, por isso, toda a vida há-de ser moldada pela Palavra que dá vida e sacia para a eternidade.

É fundamental que a pedagogia da quarta Secção não deixe de dar um con­tributo novo para a formação dos jovens Caminheiros e Companheiros, pois es­tes estão ainda num processo educativo, apesar de possuírem já autonomia em di­ferentes áreas. Da qualidade da pedago­gia proposta nesta etapa, depende o bom sucesso de todo o itinerário escutista. No final deste percurso é que pode­remos perceber qual a mais valia que o escutismo oferece à sociedade e à Igreja.


Homem Novo

"Homens, sede Homens"
Paulo VI

A mística dos caminheiros baseia-se no seu ideal que são o “Homem Novo” e o projecto das “Bem-aventuranças”; É inspirado neste projecto das “Bem-aventuranças” que se traduz a proposta de valores do “Homem Novo”.
O Homem Novo respeita a vida em todas as suas formas e manifestações.
O Homem Novo respeita e cuida do seu corpo.
O Homem Novo vive a vocação do amor como um dar-se mutuamente e partilhar uma mesma caminhada.
O Homem Novo filho de um mesmo pai, Deus, e assim todos os Homens são seus irmãos.
O Homem Novo sabe que os Homens se salvam em comunhão: a fraternidade, a solidariedade e a partilha são os caminhos da salvação.
O Homem Novo participa no desenvolvimento do mundo, na construção da Justiça e da Paz.
O Homem Novo coloca-se ao lado dos pobres, dos desprotegidos, dos marginalizados, das vítimas da violência e da injustiça.
O Homem Novo é livre e responsável, arriscando esses valores na busca de novos caminhos e soluções de futuro.
O Homem Novo está atento às conquistas da ciência e da técnica, vendo nelas apenas instrumentos que têm de dominar e utilizar com discernimento.
O Homem Novo vive o despojamento como exigência de liberdade e como um testemunho de caridade.
O Homem Novo prefere a liberdade de criar do que a escravidão de consumir.
O Homem Novo vive a vida como uma constante opção norteada da sua fé.
O Homem Novo é enfim, um Homem comprometido com estes valores, empenhando-os na sua vivência e em todos os momentos da sua vida.


Dimensões do Caminheirismo

De forma a reforçar a Mística da Secção, o itinerário do caminheiro vive-se em torno de quatro dimensões que adquirem um valor simbólico: Caminho, Comunidade, Serviço e Partida. É um itinerário de progressão pessoal, de tomada de consciência das possibilidades de evolução, de pensamento, que se lhes oferece na vida em Clã e na vida de cada dia. No final deste itinerário, o caminheiro está a franquear as portas da vida adulta, livre e responsável, prestes a tomar a vida nas suas mãos.

Este itinerário tem assim quatro vertentes: é individual, mas também comunitário, está virado para o serviço aos outros e para o desafio do desconhecido. Essas quatro vertentes estão presentes nas quatro dimensões em que o caminheiro vai crescendo:

O percurso individual – o Caminho
Nos caminheiros, o jovem é desafiado a escolher um itinerário de descoberta e de acção que o leve a tornar-se construtor de um Mundo Novo. O Caminho significa, então, a abertura, a largueza de vistas, o apelo do horizonte, a capacidade de aceitar a mudança, de viver na própria mudança. É, também, um espaço de vida despojada, de rejeição do supérfluo, de atenção ao essencial. Por fim, é um lugar de perseverança, de experiência de uma lenta e paciente construção de si mesmo, de aprendizagem da capacidade de se comprometer para além do imediato. Graças a isto, este Caminho dos caminheiros é, tal como o dos Peregrinos, testemunho de vida cristã.
Ser caminheiro é ser mais (superar-se a si mesmo)… É ser Peregrino: no Caminho de Emaús, Cristo Ressuscitado revelou-se aos seus discípulos, caminhando com eles lado a lado…

O percurso em grupo – a Comunidade
Durante o Caminho, o jovem é interpelado a avançar lado a lado com o outro. O Caminho ajuda-o, assim, a desenvolver a sua capacidade de acolher o outro, de o ajudar a avançar, de se deixar ajudar, de partilhar com ele as alegrias e tristezas da jornada. A Tribo é o espaço privilegiado para esta relação, já que é nela que se vive o início da comunhão que se potencia depois na vivência em Clã.
Ser caminheiro é ser com (participar na Caminhada com os outros)… É ser Discípulo: no Caminho de Emaús, Cristo foi reconhecido pela fracção do pão…

Um percurso com sentido: o Serviço
É o apelo das Bem-Aventuranças que dá sentido ao caminho conjunto, que se torna assim experiência de comunidade, de partilha, de amor e de construção da paz. Contudo, segundo este apelo, a comunidade não pode viver eternamente virada sobre si mesma. Viver o Serviço é um compromisso de cada instante que o caminheiro expressa ao longo do seu itinerário. Este Serviço é algo natural que não implica forçosamente um acto físico ou um dom material, na medida em que pode assumir-se como um suporte moral, um intercâmbio ou outras coisas ainda. Para além disto é gratuito, embora enriqueça quem o presta: o Serviço é uma dinâmica de descoberta, vivida numa relação de amor fraterno, de “receber, dando-se em troca”. Neste sentido, ‘Servir’ é tornar-se apto para a missão. Esta vivência do Serviço deve ser experimentada individualmente, em Tribo e em Clã, devendo ser convertida em acções de longo termo que denotem uma vontade de compromisso e não surjam apenas como “mini-serviços” rápidos e sem continuidade.
Ser caminheiro é ser para (tornar-se apto para a Missão)… É ser Testemunho: no Caminho de Emaús, Cristo serviu os seus discípulos ao explicar-lhes as Escrituras…

Um percurso para a vida: a Partida
O caminheiro tem de avançar progressivamente para a sua Partida, que exprime simbolicamente que o acto de caminhar é mais importante do que o acto de chegar. É por isso que, no final do seu tempo de caminheiro, quando sai do Clã, o jovem não chega ao fim do seu caminho, mas parte para um novo caminho. De facto, o fim de uma etapa significa sempre o início de outra e a Partida é o momento de o caminheiro se lançar no caminho da vida e é também um ‘Envio’ (só pode haver Partida se houver quem envie).
Ser caminheiro é amar… É ser Enviado: no caminho de Emaús, Cristo, “partiu”... E eles reconheceram-n’O vivo e ressuscitado.


Simbologia

Vara Bifurcada

- Símbolo da necessidade de fazer ou renovar as suas opções, sinal de que o Caminheiro se compromete a aderir ao projecto das Bem-aventuranças.

Mochila

- Onde transporta apenas o essencial para a jornada.
- Simboliza o seu desprendimento e a sua determinação de ir sempre mais além.

Tenda

- Sinal da mobilidade e da sua rapidez de se pôr em marcha.
- Na Bíblia a tenda é um sinal da presença de Deus no meio do seu povo.

Pão

- Transportado na mochila, alimenta o corpo, dado em partilha e comunhão.

Evangelho

- O pão do Espírito, anúncio da Boa Nova de Cristo.

Fogo

- Sinal da descida do Espírito Santo.
- É o fogo que ilumina e aquece o peregrino durante a sua caminhada.